quarta-feira, 21 de março de 2018

Empresa suspeita de usar dados na campanha de Trump afasta executivo

Empresa suspeita de usar dados na campanha de Trump afasta executivo
via G1

A empresa de consultoria Cambridge Analytica suspendeu nesta terça-feira (20) seu executivo-chefe Alexander Nix. A suspensão tem efeito imediato e foi decidida após Nix aparecer em gravações secretas do canal britânico Channel 4 dizendo como a consultoria trapaceia em eleições.

"Na visão do Conselho, os recentes comentários do senhor Nix gravados pelo Channel 4 e outras alegações não representam os valores ou operações da empresa e sua suspensão reflete a seriedade com a qual nós vemos essa violação", diz o comunicado da empresa.

A Cambridge Analytica foi contratada pela campanha de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos e está sendo investigada pela utilização ilegal de um vazamento de dados de 50 milhões de usuários do Facebook. Entenda o escândalo político.

O episódio foi denunciado por um ex-funcionário da consultoria, e o Facebook suspendeu a empresa por violar as suas políticas. As ações do Facebook sofreram queda de 6,8% na segunda e voltaram a cair nesta terça. Uma comissão do Parlamento britânico convocou o fundador e presidente da rede social, Mark Zuckerberg, para esclarecer o uso ilícito de informações vazadas.

Em gravações divulgadas nesta segunda-feira (19), Nix fala como a empresa configura IDs e sites falsos e que atrapalha adversários políticos com armadilhas envolvendo propinas e prostitutas.

Em nota, a Cambridge Analytica refutou todas as alegações de que a empresa use subornos, trapaças ou atividades ilegais em suas atividades de consultoria.

Em outras gravações do canal britânico, divulgadas nesta terça, Nix afirma que a consultoria fez toda a campanha digital de Trump. "Fizemos toda a pesquisa. Fizemos todos os dados. Fizemos todas as análises. Fizemos todo o direcionamento. Fizemos toda a campanha digital e nossos dados informaram as estratégias", disse Nix.

Veja algumas declarações no vídeo abaixo:


Alexander Tayler, chefe do escritório de dados da Cambridge Analytica, passa a atuar como CEO da empresa durante as investigações, segundo a nota. Tayler também aparece nas imagens do Channel 4 explicando como a empresa atua para influenciar pela internet.

De acordo com o canal de televisão, elas foram gravadas durante encontros em um hotel de Londres, realizados entre novembro de 2017 e janeiro de 2018. O "Channel 4" enviou um repórter que se apresentou como representante de um cliente rico que queria eleger candidatos no Sri Lanka.

Contratada pela campanha de Trump

A campanha eleitoral de Trump contratou a Cambridge Analytica em junho de 2016 e pagou mais de US$ 6 milhões.

Entre os investidores na Cambridge Analytica estão o ex-estrategista-chefe de Trump e ex-chefe da sua campanha eleitoral em 2016, Steve Bannon, e um destacado doador republicano, Robert Mercer.

Vazamento de dados no Facebook

Segundo o Facebook, Aleksandr Kogan, um professor de psicologia russo-americano da Universidade de Cambridge acessou os perfis de milhões de usuários da rede social que baixaram um aplicativo chamado "This is your digital life" e que oferecia um serviço de prognóstico da personalidade.

Com esse acesso, ele encaminhou mais de 50 milhões de perfis à Cambridge Analytica. Desses, 30 milhões deles tinham informações suficientes para serem exploradas com fins políticos. Ele conseguiu esses dados apesar de somente 270 mil usuários terem dado seu consentimento para que o aplicativo acessasse sua informação pessoal, segundo o "NYT".

Ao compartilhar esses dados com a empresa e com um dos seus fundadores, Christopher Wylie, Kogan violou as regras do Facebook, que eliminou o aplicativo em 2015 e exigiu a todos os envolvidos que destruíssem os dados coletados.

Empresa nega

Na nota divulgada nesta segunda, a Cambridge Analytica refuta as alegações do Channel 4 e afirma que "a reportagem está editada e roteirizada para deturpar a natureza daquelas conversas e a maneira com a qual a companhia conduz seus negócios".

A empresa diz que um executivo disse claramente ao repórter que não trabalham com notícias falsas e que o repórter "tentou atrapalhar os executivos tentando iniciar uma conversa sobre práticas antiéticas".

Ainda afirma que geralmente usa reuniões com potenciais clientes para provocar intenções antiéticas ou ilegais e reconhece que nesse caso julgou mal a situação. No comunicado, o executivo-chefe Alexander Nix afirma:

"Ao jogar o jogo dessa linha de conversa, e em parte para poupar nosso 'cliente' do constrangimento, nós falamos sobre uma série de cenários hipotéticos ridículos. Estou ciente de como isso aparenta, mas simplesmente não é o caso. Devo afirmar enfaticamente que a Cambridge Analytica não tolera ou se envolve em armadilhas, propinas ou as chamadas 'armadilhas sexuais', e nem usa material falso para qualquer propósito."

"Me arrependo profundamente de minha participação na reunião e já me desculpei à equipe. Eu deveria ter reconhecido para onde o potencial cliente estava levando a nossa conversa e deveria ter terminado o relacionamento mais cedo."

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