domingo, 1 de novembro de 2015

Ciência no Brasil é insustentável, diz cientista que lançou crowdfunding

Suzana Herculano-Houzel
via IDGNow

Uma das mais renomadas neurocientistas do País, Suzana Herculano-Houzel busca no financiamento coletivo algo que ela não tem conseguido por vias tradicionais: manter em funcionamento o Laboratório de Neuroanatomia Comparada que dirige na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Lançada na plataforma brasileira de crowdfunding Kickante, a campanha encabeçada por Suzana tem como objetivo bater a meta inicial de arrecadar R$ 100 mil. Até então, aproximadamente 570 pessoas contribuíram com 75% do valor, com 30 dias restantes para a campanha sair do ar.

Suzana, crítica da atual postura do governo em relação à pesquisa científica no Brasil, ressalta que tem tirado dinheiro do próprio bolso para investir na pesquisa e no laboratório que conta com 12 alunos da pós-graduação. Até então, Suzana se deve cerca de R$ 20 mil. “Eu sabia que o crowdfunding era uma alternativa. Mas eu ainda vinha insistindo para ver se a situação melhorava. Para não apelar para isso. Mas chegou a um ponto que ficou insustentável”, argumenta em entrevista ao IDGNow.

Para a neurocientista, a campanha de financiamento coletivo tem uma vocação ampla. Além do caráter “divulgador” da ciência brasileira, não só cativa pessoas ou internautas a apoiarem a pesquisa científica, como também atua como uma espécie de “mensagem ao governo”. “Além do lado do prático do crowdfunding - levantar recursos para não ter de interromper a pesquisa - tem o lado da mensagem ao Governo de que as pessoas não só se importam com a ciência feita no Brasil, que têm orgulho em contribuir, mas que também querem ver a ciência valorizada”, ressalta. 

Como parte do pacote de corte de gastos do Governo, o Ministério da Educação teve redução de R$ 9,4 bilhões do seu orçamento de R$ 48,8 bilhões aprovados. Enquanto o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação teve redução de R$ 1,8 bilhão. Suzana destaca que o repasse dos recursos aprovados pela Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), apesar de aprovados no ano passado, ainda não foram pagos.  Da mesma forma, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) apesar de ter aprovado, em novembro passado, uma verba de R$ 50 mil para financiar três anos de pesquisa, somente uma pequena porcentagem foi repassada ao Laboratório. “Os efeitos disso vão repercutir daqui três anos, que é o tempo médio de começar e encerrar um projeto e publicar os resultados. Eu vejo no ano que vem, o governo dizer ‘olha, viram, não foi tão grave’. Mas o que for publicado no ano que vem será o resultado que vem sendo feito há dois, três anos”, argumenta.

'Fazer ciência é caro'

Todo o valor arrecadado com a campanha de crowdfunding será usado para comprar materiais para o laboratório, como reagentes e microscópios, além de custear a publicação de pesquisas do tipo open acess. Suzana chama atenção para o fato de que cada publicação custa US$ 2 mil dólares. A média de publicação de artigos é de oito por ano.

“Fazer ciência é caro. A gente vem fazendo mágica. Esse valor é a estimativa que a gente precisa para cinco meses, garantias de conclusão das teses de mestrado e doutorados. Todo dinheiro que a gente conseguir levantar vai ser empregado no trabalho do laboratório. É o que a gente vem priorizando fundamentalmente. Temos trabalhado de maneira limitada”, ressalta. Interessados podem contribuir e incentivar a pesquisa científica com valores a partir de R$ 20 até R$ 5 mil. As recompensas vão desde adesivos e artigos científicos autografados à visita e reunião com a neurocientista do Laboratório de Neuroanatomia Comparada.

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